domingo.
o rosto em demasia, oponível,
baseado na imagem de um espelho
em erosão de náufragos.
deve ser isto, a beleza:
um abismo dial.
sei-o a conta-gotas,
como forma de primeiro cancro,
legalizando nos rastos a ideia de deus.
é, adentro, uma ameaça de fé.
e o amor?
há os que se matam assaz,
baleados em factos reais,
percutidos na astenia votiva
de um filho por desistir.
já ninguém se preza a morrer em detalhe.
fingir que nunca as formas lânguidas,
tão letais depois de nos virmos,
onde os erros de cronologia são acrescentos
portáteis ao afã das lembranças.
um dom anacrónico.
também eu, mormente,
sou um corpo onde não morar.
há sempre uma que acredita querer-me,
vítima de uma vagina sem escudo,
falecendo o melhor que pode numa ressaca
de braços onde entulho as manhãs.
são os destroços de serviço,
estas mulheres horizontais.
as cáries dos livros.
resgatá-las,
nos intervalos do amor,
é a única maneira de levar a cabo
a imbatível certeza do fracasso.
a vida ensina a morrer.
a molestar os estofos com o genótipo
de deus.
se precisarem de mim,
estarei na forca do próximo poema.
genótipo: só.
DT
sábado, 26 de novembro de 2011
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Explicação 23
Explicação dos antípodas: a impossibilidade de ir mais longe, e voltar para trás indo em frente.
DT
DT
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
"Lady, three white leopards sat under a juniper-tree"
T. S. Eliot
T. S. Eliot
menina
dois leopardos deitaram-se à copa do jacarandá
vigilantes do tempo que teima
em deixar rasto de coisa nenhuma
ocupam-se eles de afiar os dentes
nos rugidos um do outro
a bem dos espaços de forçada doçura
ao pé do jacarandá desagua a tua porta
e ao pé da tua porta desaguo eu
perante a indiferença dos felinos
olham-nos eles de olhar canino
[cedo de bom grado à lógica]
com bocejos esticados até às orelhas
pesados de indolência incolor
olham-nos os bichos - dizia eu -
prenhes das sentenças dos carrascos
DV
dois leopardos deitaram-se à copa do jacarandá
vigilantes do tempo que teima
em deixar rasto de coisa nenhuma
ocupam-se eles de afiar os dentes
nos rugidos um do outro
a bem dos espaços de forçada doçura
ao pé do jacarandá desagua a tua porta
e ao pé da tua porta desaguo eu
perante a indiferença dos felinos
olham-nos eles de olhar canino
[cedo de bom grado à lógica]
com bocejos esticados até às orelhas
pesados de indolência incolor
olham-nos os bichos - dizia eu -
prenhes das sentenças dos carrascos
DV
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
domingo, 13 de novembro de 2011
queimo a ponte
por onde me alcançarias
faço-te um favor -
podia accionar o isqueiro
quando estivesses a atravessar
[podia]
construí e percorri sozinho
a ponte de madeira
[desmembrei a carnadura
e o esqueleto da minha casa
e as traves e o tabuado
que me albergavam
são agora um caminho
lasso - sem retorno]
o muito que se poderia fazer
com gasolina azul de 98 octanas
[pensam o cínico e o joker
ambos de bocas rasgadas]
por isso farei o que quero
e farei o que posso
acabado o último cigarro
DV
por onde me alcançarias
faço-te um favor -
podia accionar o isqueiro
quando estivesses a atravessar
[podia]
construí e percorri sozinho
a ponte de madeira
[desmembrei a carnadura
e o esqueleto da minha casa
e as traves e o tabuado
que me albergavam
são agora um caminho
lasso - sem retorno]
o muito que se poderia fazer
com gasolina azul de 98 octanas
[pensam o cínico e o joker
ambos de bocas rasgadas]
por isso farei o que quero
e farei o que posso
acabado o último cigarro
DV
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
estética de um desastre
são as ruínas que nos habituam
a tudo o que há de verdade.
não está em nós.
aprendemos os outros,
um a um,
em jeito de arredor,
como se o tempo se iludisse com molduras
na sedimentação das idades.
trinta e três, quarenta e quatro.
sem outros cônjuges,
as mãos,
e os corpos em dezembro,
sem intervalos.
é assim a estética de um desastre
que sem resposta nos vacila.
durante.
imprecisos.
infantes na errância dos limbos.
não sei bem como se inscreve
um motivo mas há ainda uma boca
que nos é sede.
sorve-nos a fuselagem dos atalhos.
e dela brotamos íngremes
para extinguir os mapas na varanda
dos dedos.
escopo ou ónus este silêncio?
féretro.
quantos se esbatem na aleatória convalescença
dos ritos?
amo-te.
é a minha maneira de dizer-te adeus.
DT
a tudo o que há de verdade.
não está em nós.
aprendemos os outros,
um a um,
em jeito de arredor,
como se o tempo se iludisse com molduras
na sedimentação das idades.
trinta e três, quarenta e quatro.
sem outros cônjuges,
as mãos,
e os corpos em dezembro,
sem intervalos.
é assim a estética de um desastre
que sem resposta nos vacila.
durante.
imprecisos.
infantes na errância dos limbos.
não sei bem como se inscreve
um motivo mas há ainda uma boca
que nos é sede.
sorve-nos a fuselagem dos atalhos.
e dela brotamos íngremes
para extinguir os mapas na varanda
dos dedos.
escopo ou ónus este silêncio?
féretro.
quantos se esbatem na aleatória convalescença
dos ritos?
amo-te.
é a minha maneira de dizer-te adeus.
DT
domingo, 6 de novembro de 2011
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
a beleza arguida
palavras,
se as houvesse,
para aposentar o pecado
nas coordenadas do sangue.
a pele acontecendo.
não teríamos acordado sem legendas,
desnudos e com os genitais desarrumados,
ferindo o cio com os afluentes do hábito
e o ofício da fome.
déspota,
o teu corpo é o meu álibi para faltar à vida.
o incentivo ao pavor.
leio-te com as mãos para folhear-te a carne,
nómada pelo que te quero,
e só assim me iludo.
agora acredito.
somos, tantas vezes,
os lacustres assassinos de claves.
a asma das bússolas.
e como se isso nos bastasse,
a manhã dói-nos pelas costuras
e não há dia que amorteça o beijo
que nos envelhece.
até onde?
a retina vende-se por tão pouco
nas traseiras de um verbo
mas deste fim pouco sabemos.
ou pouco sei.
e à primeira lágrima,
sentirás na boca o refrão de um punho,
e à cabeceira dos vínculos devolver-te-ás
à beleza arguida da única sigla que escolheste
para a gestão do amor:
HIV
se as houvesse,
para aposentar o pecado
nas coordenadas do sangue.
a pele acontecendo.
não teríamos acordado sem legendas,
desnudos e com os genitais desarrumados,
ferindo o cio com os afluentes do hábito
e o ofício da fome.
déspota,
o teu corpo é o meu álibi para faltar à vida.
o incentivo ao pavor.
leio-te com as mãos para folhear-te a carne,
nómada pelo que te quero,
e só assim me iludo.
agora acredito.
somos, tantas vezes,
os lacustres assassinos de claves.
a asma das bússolas.
e como se isso nos bastasse,
a manhã dói-nos pelas costuras
e não há dia que amorteça o beijo
que nos envelhece.
até onde?
a retina vende-se por tão pouco
nas traseiras de um verbo
mas deste fim pouco sabemos.
ou pouco sei.
e à primeira lágrima,
sentirás na boca o refrão de um punho,
e à cabeceira dos vínculos devolver-te-ás
à beleza arguida da única sigla que escolheste
para a gestão do amor:
HIV
DT
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
ao diante
o choro de um ninho de larvas
ruidosas na minha absorta autofagia
não choro com elas
mas a contemplação faz-me vir à tona
[à tona de quê
começar o poema com a fúria
de saber o mundo aniquilando-o
porém o início é sempre o
da desconfiança das palavras
instrumentos que oscilam
entre árias e vozes guturais
instrumentos de desconhecimento
onde não surjo nem me denuncio
onde não me descubro
por mais que sejam desmembradas as letras
com as interpretações profanadas
foda-se - à tona de quê]
atrás
o choro de mil larvas senis
liquidadas na minha perene autofagia
de que serve chorar com elas
a contemplação não me faz vir à tona
DV
o choro de um ninho de larvas
ruidosas na minha absorta autofagia
não choro com elas
mas a contemplação faz-me vir à tona
[à tona de quê
começar o poema com a fúria
de saber o mundo aniquilando-o
porém o início é sempre o
da desconfiança das palavras
instrumentos que oscilam
entre árias e vozes guturais
instrumentos de desconhecimento
onde não surjo nem me denuncio
onde não me descubro
por mais que sejam desmembradas as letras
com as interpretações profanadas
foda-se - à tona de quê]
atrás
o choro de mil larvas senis
liquidadas na minha perene autofagia
de que serve chorar com elas
a contemplação não me faz vir à tona
DV
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