entre as ancas de um livro,
cem mãos sem dedos escrevem a vermelho mênstruo
a venérea ausência de cristo.
A ferida exacta.
o acto de rasgar,
tão perfeitamente desesperado,
é o sustento de um guião vascular para os lúcidos.
uma criação suicida.
há quem não entenda as vocações terminais.
as ruínas fundadoras de homens.
a beleza incompleta,
em procissão de vinho pelas pernas,
invade-me a boca como forma de [a]deus.
só então me venho,
ali,
no cúmulo dos tecidos transactos
e estradas tolhidas,
celebrando a ilegal distribuição de vivos
por talvegues maternos atados ao parto
[para nem sempre respirar].
há quem não entenda as vocações terminais.
como infectar de amor a cadência líquida
da tua ascensão a árvore.
DT
sábado, 29 de outubro de 2011
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Explicação 14
Explicação do estudante: dedicado explorador do nanómetro a quem a macroscopia, com o tempo, provoca vertigens.
JA
JA
terça-feira, 25 de outubro de 2011
Explicação 9
Explicação da origem: há que manter os homens ocupados com a interrogação - e alienados da construção.
DV
DV
Cemitério 1
eu pensava que era a predilecta
criação de deus na terra
e por isso despertava e adormecia
com a imortalidade do tempo perdido
em minhas encardidas mãos
mas entrei de manso e em silêncio
na cidade dos mortos
e transposta a entrada
ali - do berço à lápide - tudo é circular
e sem pontos de fuga
[Fotos do Cemitério paroquial de Santo António da Serra]
DV
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
faltas-me tu - inimigo
ninguém mais
para que possa cumprir-me
olho-te na testa - e faço-te
cuspir sangue na minha cara
com as unhas
perfuro-te o abdómen
e sinto as vísceras fedorentas
sou indestrutível
- preciso do teu sangue
para dissolver o meu sangue
e da culpa e da raiva
fecundas -
que me aplaquem de verdade
preciso da dissonância engolida
que da tua boca brote
para esquecer o que se segue
entre um morto e um ferido
fico eu aqui - a pairar
sem último sacramento
DV
ninguém mais
para que possa cumprir-me
olho-te na testa - e faço-te
cuspir sangue na minha cara
com as unhas
perfuro-te o abdómen
e sinto as vísceras fedorentas
sou indestrutível
- preciso do teu sangue
para dissolver o meu sangue
e da culpa e da raiva
fecundas -
que me aplaquem de verdade
preciso da dissonância engolida
que da tua boca brote
para esquecer o que se segue
entre um morto e um ferido
fico eu aqui - a pairar
sem último sacramento
DV
domingo, 23 de outubro de 2011
certidão de ódio
no soalho das garrafas que me bebem
há uma tábua de marés que te escreve
para trás.
prolonga o teu pendor.
é assim,
sem nada a roubar à memória,
que frequentas aulas de perda de sangue.
a catequese do afogamento,
sempre segundo o evangelho,
onde cometo as núpcias das tuas metades possíveis.
não te comovas.
é no gargalo do mundo que os defuntos menstruam
mas há outros saibos propícios ao vestígio.
os nunca instantes,
à prova de canibalismos,
expulsos do tempo em prol do alento.
só assim é possível rejubilar.
ainda me comovi uma vez,
espantosamente mais tarde,
quando soube que ao foderes
em meu nome não mais pedias
que te chamassem de puta.
talvez fosse domingo.
minha estimada imperfeição,
o nome nunca é a capital do corpo.
em vão explico-te a mecânica das metáforas
e o direito a ser executado porfiadamente
mas sempre elegeste o catecismo
como manual de prostituição.
a tua certidão de ódio.
não te comovas.
nunca é o último copo nem o último xanax.
[e não necessariamente nesta desordem].
a poesia é a esmola que te serve de amor
mas só no inferno me atrevo a cuspir
o hímen de maria.
DT
há uma tábua de marés que te escreve
para trás.
prolonga o teu pendor.
é assim,
sem nada a roubar à memória,
que frequentas aulas de perda de sangue.
a catequese do afogamento,
sempre segundo o evangelho,
onde cometo as núpcias das tuas metades possíveis.
não te comovas.
é no gargalo do mundo que os defuntos menstruam
mas há outros saibos propícios ao vestígio.
os nunca instantes,
à prova de canibalismos,
expulsos do tempo em prol do alento.
só assim é possível rejubilar.
ainda me comovi uma vez,
espantosamente mais tarde,
quando soube que ao foderes
em meu nome não mais pedias
que te chamassem de puta.
talvez fosse domingo.
minha estimada imperfeição,
o nome nunca é a capital do corpo.
em vão explico-te a mecânica das metáforas
e o direito a ser executado porfiadamente
mas sempre elegeste o catecismo
como manual de prostituição.
a tua certidão de ódio.
não te comovas.
nunca é o último copo nem o último xanax.
[e não necessariamente nesta desordem].
a poesia é a esmola que te serve de amor
mas só no inferno me atrevo a cuspir
o hímen de maria.
DT
sábado, 22 de outubro de 2011
conheço o lugar
onde até os gatos desistiram de viver
após o último estertor
acabam por emoldurar as paredes brancas
de nada lhes serve
a languidez em espaços vazios
onde o tempo ensina
que o tempo é indomável
*
I know the place
where even cats have given up life
after the last death rattle
they end up framing the white walls
languidness has no use for them
in empty spaces
where time teaches
that time cannot be tamed
DV
onde até os gatos desistiram de viver
após o último estertor
acabam por emoldurar as paredes brancas
de nada lhes serve
a languidez em espaços vazios
onde o tempo ensina
que o tempo é indomável
*
I know the place
where even cats have given up life
after the last death rattle
they end up framing the white walls
languidness has no use for them
in empty spaces
where time teaches
that time cannot be tamed
DV
Quatro Vozes
Este blogue principia com parcas palavras: quatro amigos, unidos na criação literária - unidos na poesia. Quatro vozes:
Joana Aguiar [JA]
Vítor Sousa [VS]
Duarte Temtem [DT]
Dinarte Vasconcelos [DV]
somos a irmandade dos telhados
- salteadores debruçados sobre a turba -
armados de um nó na garganta
não obliteramos porém as vozes
e não nos prendemos a coisa nenhuma
Joana Aguiar [JA]
Vítor Sousa [VS]
Duarte Temtem [DT]
Dinarte Vasconcelos [DV]
somos a irmandade dos telhados
- salteadores debruçados sobre a turba -
armados de um nó na garganta
não obliteramos porém as vozes
e não nos prendemos a coisa nenhuma
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