domingo, 23 de outubro de 2011

certidão de ódio

no soalho das garrafas que me bebem
há uma tábua de marés que te escreve
para trás.
prolonga o teu pendor.
é assim,
sem nada a roubar à memória,
que frequentas aulas de perda de sangue.
a catequese do afogamento,
sempre segundo o evangelho,
onde cometo as núpcias das tuas metades possíveis.


não te comovas.
é no gargalo do mundo que os defuntos menstruam
mas há outros saibos propícios ao vestígio.
os nunca instantes,
à prova de canibalismos,
expulsos do tempo em prol do alento.


só assim é possível rejubilar.
ainda me comovi uma vez,
espantosamente mais tarde,
quando soube que ao foderes
em meu nome não mais pedias
que te chamassem de puta.
talvez fosse domingo.


minha estimada imperfeição,
o nome nunca é a capital do corpo.
em vão explico-te a mecânica das metáforas
e o direito a ser executado porfiadamente
mas sempre elegeste o catecismo
como manual de prostituição.
a tua certidão de ódio.


não te comovas.
nunca é o último copo nem o último xanax.
[e não necessariamente nesta desordem].
a poesia é a esmola que te serve de amor
mas só no inferno me atrevo a cuspir
o hímen de maria.

DT

Sem comentários:

Enviar um comentário