sexta-feira, 20 de abril de 2012

a forma erudita

poderia ser um ofício, isto.
o ruído que trago à palavra ruína.
sei que nos bordeis de deus
há outras políticas de desmoronamento
[como o ritual de viajar com o teu corpo
para paraísos oncológicos],
mas deus não passa recibo
quando se arrenda o inferno.


inútil, o ónus.
não se sai ileso de uma mulher de fundo.
o tesão de deus são as doenças com gargalo
e as tuas ancas são o único bar aberto
na teúrgica escatologia do amor.
é uma questão de fuligem.
e eu caio de boca,
como quem comunga o estrago,
ou não fosse a vertigem
uma forma educada de assediar os tumores.


é de ti que eles falam.
os cancros.
deitam-se contigo,
em campanha eleitoral pelo corpo,
abrindo vagas para tempero
no seu estojo de óbitos.
seguram-te o cabelo,
enquanto vomitas o esperma do jantar
[e os últimos meses de vida],
mas não te perdoarão a audácia do socorro.


é esta a tua ribalta.
uma ogiva com tenores a prazo.
também eu pagaria para morrer
mas nem para morrer sirvo.
dopamos os dias com amigos decorativos
e instruções para abate,
na sua forma erudita,
e eu não sei em que coldre
devo estacionar os retalhos.


nós nunca nos matamos a tempo.


mas nunca é tarde para se ser infeliz.

DT

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